Nada é tão simples, que não se possa complicar ainda mais.
Acredite.
Tudo tem potencial para ser ampliado.
Seja a experiência de dor, alegria, tristeza, solidão, entusiasmo, ilusão.
E cada gole que sai da garrafa, descendo pela minha garganta, direto para a minha consciência tendo exatamente a mesma catastrófica característica. Amplia o tamanho do vazio que tento ocupar com qualquer coisa.
Qualquer coisa, que não seja a lembrança que percebo em filtros soturnos, girando pela minha mente, daquilo que um dia já foi e hoje, já não é nada mais do que uma lembrança.
Uma ilusão de um tempo que já foi tragado pela memória.
Mas que fica insistentemente espetando o fundo do meu cérebro. Fica adormecida e quieta, nos raros momentos de concentração.
De abstração no trabalho.
De anestesia nas mesas de bar, cercado de amigos e outros não tão amigos assim, mas que contribuem com a companhia algum tipo de alívio temporário da ilusão.
E no final de todos os dias, olhos que se encontram no espelho e percebem a ilusão ali.
Cutucando.
Fustigando.
Torcendo.
Iludindo.
Olhos que focam não naquilo que é ou que será.
Mas naquilo que foi.
E tenta encontrar no semblante cansado, alguma memória que reavive ainda mais as cinzas dormentes dentro da ilusão.
Avivando uma chama tola, teimosa e fútil.
Que morre todo dia que o sol nasce sem qualquer novidade.
Que brilha laranja, ao cair da tarde, já com as promessas de diversões e distrações.
Mas todas as noites, invariavelmente, as ilusórias chamas do passado são reavivadas.
Percebendo a ilusão que mente tão serenamente imutável, por tanto tempo, que tenta ferir o coração, com as memórias do passado daquilo que foi, e que não é mais nada.
A lágrima chega aos olhos, mas ela nunca cai.
Ela nunca cai de verdade.
Ela nunca cai a tempo de apagar as cinzas. Que aparece sempre, noite após noite.
Ela falha em apagar o passado. Que é onde reside a ilusão.
E um belo dia, eu sei, as cinzas não mais arderão teimosas na memória.
Algo será calcificado na memória, restando bons pensamentos e memórias.
Sem mais lágrimas para cair, talvez sobre tempo para um sorriso.
Talvez sobre força para recordar.
Talvez eu só deixe para trás toda essa merda.
E me esqueça totalmente que um dia, eu me deixei pertencer a você.
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